terça-feira, 26 de junho de 2012

A contribuição da linguagem em Educação a Distância

Contribuição da dimensão sociointeracionista da linguagem para a compreensão do papel do professor  e do aluno no campo da Educação a Distância (EAD)
 Valentina Scott
           Tendo como referência o conceito de atividades apresentado por Bronckart como sendo “organizações funcionais dos organismos vivos através dos quais eles têm acesso ao meio ambiente e podem construir elementos de representação interna (ou de conhecimento) sobre esse mesmo ambiente” (199:31), podemos afirmar que a espécie humana por sua complexidade de organização, e de atividadades executadas, necessita de uma organização coletiva para atingir seus objetivos.
          Coletivamente organizados, nós humanos, cooperamos uns com os outros em atividades mediadas por interações verbais, caracterizadas pelo que Habermas (1987) chamou de agir comunicativo.
          Tal ação comunicativa tem efeito mediador na interação que o sujeito faz com o ambiente, e proporciona que este atue sobre sua realidade, transformando a si mesmo, e ao mundo no qual está inserido.
          Isto posto, fica claro que a linguagem é, portanto, “primariamente uma característica da atividade social humana, cuja função maior é de ordem comunicativa ou pragmática” (Bronckart, 1999:34)
          Considerando que nossas produções de linguagem acontecem, necessariamente, na interação com uma intertextualidade (Bronckart, 1999) e em dimensões sociais sincrônicas , históricas e discursivas, em consonância com grupos sociais que nos antecederam, compreendemos que uso adequado desta, é uma importante peça no processo educativo.
          Na tentativa de esclarecer o exposto acima, alertamos para o fato de que, no processo de ensino-aprendizagem, a função pragmática da linguagem atinge seu ápice pois, “são indivíduos concretos fazendo uso da linguagem em situações concretas, sob determinadas condições de produção” (Cunha, 2006:2).
          Podemos dizer então que, como em qualquer modalidade de ensino, também na Educação a Distância (EaD), a linguagem em sua dimensão sociointeracionista tem uma importante contribuição no que se refere a interação entre os sujeitos e destes com os objetos de conhecimento.
          Contudo, por suas especificidades (interlocução não simultânea, ausência de uma relação em presença entre professor e aluno, dentre outras) na EaD, tal contribuição é ainda mais clara.
          Considerando que há na linguagem um princípio de cooperação, descrito por Paul Grice como a contribuição que cada um dos interactantes dá à interação da qual participam e onde cada um reconhece seus próprios diretos e deveres, assim como os do outro, constamos que em EaD tal princípio é fundamental para o sucesso do curso.
          Isto posto, lembramos que tal cooperação acontece na medida em que o professor assume para si a responsabilidade de promover enunciados que busquem acordo e negociação, preservando todos os envolvidos e mobilizando-os ao objetivo comum. Segundo Cunha (2006) a EaD exige, tanto do professor quanto do aluno, uma postura diferente da que historicamente se tem assumido, no processo de ensino-aprendizagem presencial.
          Assim, o professor precisará estar atento a preparação do material para cursos em EaD e ter muito bem definidas suas estratégias de interação assincrônicas e sincrônicas, com os alunos. Além disso, será de fundamental importância que este procure flexibilizar os desafios que encontrará quanto ao funcionamento tecnológico dos ambientes virtuais de aprendizagem (Ava's), e por fim, que tenha em mente a importância da disponibilização de domínios de conhecimento e construção coletiva deste.
          Quanto aos alunos, como colocado por Cunha (2006) é necessário que estes tenham uma postura próativa e de caráter autônomo, visto que na internet, a escrita assume a característica hipertextual, influenciando no modo como os indivíduos interagem na e pela linguagem.
          A característica hipertextual dos textos utilizados em EaD mobilizam os professores a refletir sobre a grande diferença que há em se redigir para AVA's e sobre o impacto que a linguagem pode ter como elemento facilitador da interação, segundo Koelling & Lanzarini (2009).
          Desta forma, podemos afirmar que em se tratando de EaD, e considerando as contribuições da linguagem para tal modalidade, há ainda que se investir na formação docente para melhor qualificá-lo quanto aos recursos de linguagem disponíveis.

Bibliografia:

BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de Linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sócio-discursivo . Trad. Anna Rachel Machado, Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1999. p. 31-38

CUNHA, Ana Lygia. A interação na Educação a distância: cuidados com o uso da linguagem em cursos on line. (02/2006). Disponível em: http://www.abed.org.br/seminario2006/pdf/tc011.pdf

KOELLING & LANZARINI. Educação a Distância: a linguagem como facilitadora da aprendizagem. III Encontro Nacional sobre Hipertexto. CEFET-MG – Belo Horizonte. 2009. Disponível em: http://www.ufpe.br/nehte/hipertexto2009/anais/b-f/educacao-a-distancia-alinguagem- como-facilitadora.pdf