quinta-feira, 3 de março de 2011

Interação e interatividade em Educação a Distância

Inicialmente é fundamental esclarecer que toda a aprendizagem humana acontece a partir de uma interação entre o sujeito e o meio, entre o sujeito e o objeto e entre os sujeitos envolvidos.
Segundo a perspectiva construtivista de Piaget a aprendizagem gera conhecimento a partir das interações acima citadas, e através da forma como o sujeito opera a realidade para transformá-la e/ou compreendê-la.
Esclarecido o conceito de interação, precisamos então compreender melhor o termo interatividade.
Sob interatividade Fragoso (2001) esclarece: “ A palavra interatividade, derivada do neologismo inglês interactivity, foi cunhada para denominar uma qualidade específica da chamada computação interativa (interactive computing).”
Desta forma, constatamos que o termo interatividade tem seu nascimento ligado as interações sujeito - computador.
Contudo, este termo não se restringe apenas a esta interação. É importante observamos que, apesar de alguns processos, meios e produtos midiáticos serem dotados de interatividade, isto não significa que os demais não-midiáticos sejam não-interativos.
Fragoso (2001) explica com muita clareza: “Assim como é interativo qualquer processo em que dois ou mais agentes interagem, também é interativo aquilo que permite a específica modalidade de interação implicada na denominação interatividade. Apropriar-se da qualificação interativo em seu sentido restrito, relativo a interatividade, para negar a existência de qualquer tipo de interação é, no entanto, uma generalização improcedente...”
A luz dos conceitos e esclarecimentos acima, podemos então afirmar que interação e interatividade são termos que fazem parte e tem papel crucial na educação a distância (EAD), posto que: a aprendizagem acontece em interações, e com o advento das novas tecnologias da informação e comunicação (NTIC's), a interatividade tem um salto qualitativo nesta modalidade de educação.
Considerada por Moore (2010) como a quinta geração histórica da evolução da EAD, as aulas virtuais baseadas no computador e na internet, proporcionam uma interatividade mediada por redes telemáticas e ambientes virtuais, que muito favorece as interações entre os sujeitos e destes com o meio e com o objeto da aprendizagem.
Este autor afirma ainda que, a eficácia da EAD depende necessariamente da compreensão da natureza da interação que acontece entre aluno-conteúdo, aluno-instrutor e aluno-aluno, e de como facilitá-la por meio do uso das NTIC's.
Parece-me que este é um dos maiores desafios atuais para a EAD: há disponível um grande arsenal de processos, produtos e meios midiáticos, que favorecem a interatividade, contudo não garantem que a interação dos alunos será qualificada.
A qualidade da interação do aluno, e consequentemente, a conquista do objetivo de um curso na modalidade EAD está vinculada ao trabalho dos professores e tutores.
É fundamental que estes estejam atentos ao que os alunos estão demandando em particular, e coletivamente, para que escolham estratégias, materiais, indiquem fontes bibliográficas e façam intervenções pedagógicas adequadas. E o desafio está exatamente aí, na medida em que, por ser de natureza multidimensional, e contar com um público bastante heterogêneo, e sem contato prévio com os professores e tutores, muitas decisões são tomadas durante o caminhar do curso.
Sobre isto Moore(2010) aponta as seguintes diretrizes para os instrutores de EAD:
1 - Humanização: criação de ambiente que enfatize a importância do indivíduo e que gere a sensação de relacionamento com o grupo. Usar os nomes dos alunos, disponibilizar fotos dos participantes e informações sobre experiências pessoais e opiniões dos participantes.
2 - Participação: assegurar que exista um alto nível de interação e diálogo, o que é facilitado por técnicas como formular perguntas, atividades em grupo para resolução de problemas, apresentações dos participantes e exercícios de representação de papéis;
3 - Estilo da mensagem: usar boas técnicas de comunicação ao apresentar as informações, incluindo proporcionar visões de conjunto, utilizar organizadores modernos e sumários, variedade e uso de material impresso para comunicar informações que têm muitos detalhes;
4 - Feedback: obter informações dos participantes a respeito de seu progresso. Pode ser obtido por perguntas diretas, tarefas, questionários e pesquisas.
Pela experiência que acompanhei na utilização de ambiente virtual de aprendizagem da Prefeitura de Belo Horizonte, para formação de professores da Rede Municipal de Educação, contatei que as diretrizes acima apontadas são fundamentais.
Nos cursos onde os tutores (instrutores) conseguiam promover a humanização, incentivar e incrementar a participação, estabelecer diálogos constantes através de chats, e-mails e fóruns e ainda estarem atentos ao feedback, o resultado foi substancialmente melhor. Nas turmas destes tutores notamos uma menor evasão e produções finais de excelente qualidade.
Interação e interatividade em EAD, portanto, são ao mesmo tempo, desafio e solução para que haja sucesso na aprendizagem.
Cabe aos tutores (instrutores) promoverem a interatividade, contudo, sem se esquecer que a interação do sujeito como o que está proposto no curso, é totalmente particular e depende da motivação deste.



Bibliografia:

FRAGOSO, Suely. De interações e interatividade. X Compós – Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação . Texto apresentado e debatido no Grupo de Trabalho Comunicação e Sociedade Tecnológica - Brasília, 2001. Disponível em: http://www.miniwebcursos.com.br/artigos/PDF/interatividade.pdf

MOORE, Michael G. Educação a distância: uma visão integrada / Michael G. Moore, Greg Kearsley; (tradução Roberto Galman). São Paulo : Cengage Learning, 2010.